Alice Loureiro

no Prova d'Arte
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Entre o muito de peculiar que a caracteriza, tem sobretudo a serena irrequietude do olhar e essa argúcia ritmada de uma passada sempre atenta à maravilha dos instantes. Mas tem também o dom da apreensão do tanto que vai da raiz ao fruto, do caule à folha, do arbusto à nuvem, do chão ao céu. E tem ainda todo esse jeito minucioso com que capta até a quase invisível curvatura do vento. Ei-la que faz tudo isto como quem contempla e absorve. Ou antes, como quem é absorvida pela tonalidade colorida ou desbotada da pétala à beira do caminho, pelo detalhe inclinado de um longo e louro campo de feno ou pela árvore perdida num ponto ermo, entre a confluência do azul e um estirão de verdura às vezes praticamente vazia.

O longe e o perto, o grande e o pequeno, o interior e o exterior, o vasto e o isolado, o expresso e o insinuado, o apreendido e o inapreensível são, por conseguinte, uma constante na arte de Alice Loureiro, que respira a imensa natureza e os seus cambiantes com o mesmo à-vontade com que nos interpela, nos toca e nos fascina.

Além do mais, os materiais e as técnicas utilizados pela pintora acabam por realçar, de um modo feliz ou com particular riqueza e ampla sensibilidade, todas estas singularidades. Desde a variação cromática contida na combinação das tintas até à pressão que se pressente que foi posta no pincel, desde o traço fino no extremo ténue de uma espiga até ao carregado decalque das rugas numa silhueta de árvore solitária ou envelhecida: tudo resulta numa beleza harmónica ou contrastante, onde sai evidenciado um variado um domínio de saberes.

E tanto mais é de admirar quanto Alice deixa transparecer uma intenção despretensiosa sempre que se refere ao seu trabalho, assumindo-se como “uma simples construtora de imagens inspiradas na Natureza”.
 
Jorge Tinoco